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​​Janeiro 2022
Cais das colunas
 
Vivo sentimentos
de quem por muito tempo
da sua terra partiu
e deseja voltar com o coração
sentindo o mundo
inteiro dentro de si
 
e o deseja para todos
 
os meus sentimentos
são Pérolas mas não são minhas
quereria antes
que de toda a gente fossem
e que as sentissem
nesta felicidade
 
imensa
 
pois a todos pertencem
se atentos ao lugar
e a todos os lugares
por onde passam
captando o par enamorado
que se beija até ao infinito
ou o homem que diante do sol
desce os degraus até ao mar
e erguendo as calças
mergulha os pés na água fria
ao som da música de Eric Clapton
e completa o momento poético
deste mar
____________________________________
 
 
Avenida da Liberdade
Ali sentada no banco
descansa na
Avenida
 
o som do trânsito
 
habitua-se por fim
burburinho e buzinas
intensas
 
em frente no seu
modo habitual
abstrato
 
de nada
ver exorta no seu
pensamento
 
do outro lado
por entre o passar
dos carros
 
um palácio do século XIX
 
em tempos
idos pertence da
bisavó.
 
Era rica e muito má
de que lhe valeu
ter sido
 
rica
 
se era infeliz
por ser má o tempo
corre
 
na memória
 
de sua mãe e também
dela por ouvir
contar
 
o autocarro parado
em frente tolda-lhe
o tempo
 
remoto e transformado
em empresas e
capital
 
repara então
que já não repara em
coisa
 
alguma
capital é apenas
capital
 
e o uso que se lhe dá
 
 
 
 
um velhinho
poisa um paninho
aveludado
 
no banco
 
do jardim
estende-o
com cuidado
 
passa-lhe a mão como
quem estende a vida
meticulosamente
 
limpando
vinca-o
repetidas vezes
 
oito vezes dobra
a dobra guarda-o
com afecto
 
do mesmo modo
 
no propósito de
o utilizar
de novo
 
coloca-o
na bolsinha da
mochila com jeito
 
põe o boné
e segue
devagarinho o seu
 
Caminho
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Paris, 26 de Dezembro, 2019
Rue du Temple, perto da Place de la République
 
Uma caixa multibanco
Uma rapariga
2 filhos
Não lhe chegam ao joelho
Agarram-se-lhe às pernas
Mesmo por baixo
Deitada no passeio
Uma pessoa coberta
Sem corpo
Sem cara
 
Vejo-os mas não paro
Tento devolver à cena
Um pouco de dignidade
 
 
Paris, 27 Dezembro
A cena não se repete, altera-se
 
Uma caixa multibanco
Mesmo por baixo
Deitada na rua
Uma pessoa coberta
Sem corpo, sem cara
Dez metros mais acima
Um saco de plástico
Aliás um saco de lixo
No interior
Um corpo
Invisível
Forma um balão
Uma bolha de ar
 
É um presépio?
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