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Ruth Rosengarten​​

ROMANCE MUDO​​
Galeria Diferença, Lisboa

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Numa tentativa de exercer uma crítica da noção de "autoria", vários artistas contemporêneos têm, deliberadamente, evitado um estilo -assinatura, efectuando mudanças camaleonicas de estilo de uma série de obras para outra. Com Rosário Rebello de Andrade tais mudanças foram aparecendo com uma intensidade de empenho tão evidente que, até agora, pareciam registar cada vez uma mudança d direcção mais do que representar uma estratégia. Na exposição actual, mais do que na instalação do Museu Botânico, no Verão de 1996, as mudanças estilísticas encontram-se subordinadas a uma intensão dominante.

Esta é, pois, a sua exposição mais coerente — e mais interessante — até à data.
Sob o estandarte Romance Mudo, foram realizados, entre 1994 e 1996, mais de uma centena de pequenos desenhos e pinturas, todos executados (mas não obrigatóriamente expostos) na horizontal. Tal como o título indica, os trabalhos são apresentados por uma intensão solta e nunca explicitada, que permanece fechada a uma interpretação imediata. A ideia foi inspirada por um conjunto de seis gravuras, datados do Séc. XVII e existentes no Musei de Évora, conhecidas como LLaves do Rumance Mudo da Vida de Santo António. Estas gravuras pertencem a um tipo de obras muito popular desde o Barroco: os livros de divisas. O objectivo destas publicações, de origem jesuíta, foi a de popularizar (quer em livro quer em folhas impressas) a iconografia sagrada, sob a forma de jogo ou puzzle. Tratando muitas vezes da vida dos santos, eram colecções de hieroglifos com chaves (llaves) para a sua decifração.

Por vezes, tais figuras — emblemas ou ícones — demonstram o seu poder de sedução em relação aos artistas, na medida em que os símbolos fazem, de modo ingénuo, o que diversas obras artísticas tentam fazer: servir o sentido através de uma linguagem simbólica (pense-se, por exemplo, na pintura de Miró, Gorky, Clemente...). Rebello de Andrade cria um léxico pictórico de imagens, simultâneamente ligadas e desligadas da fonte. O formato pequeno, a montagem em que se destaca a importância do agrupamento, e o âmbito específico e reduzido do projecto são altamente favoráveis à artista: há, nestas pequenas obras uma qualidade onírica, uma combinação de precisão de imagem com uma ambiguidade de sentido. Pois nenhuma chave nos é, aqui, fornecida. Mesmo quando se torna evidente a dívida da artista para com outros artistas (especialmente Clemente), Rosário Rebello de Andrade imbui as obras de um sentido de obsessão muito pessoal.

Esta mostra — que respira uma atmosfera de encanto no sentido literal da palavra — é acompanhada de um livro que, embora baseado na mostra, foi concebido como objecto autónomo.


 

„Stummer Roman“
Galeria Diferença, Lisboa

In einem Versuch, Kritik daran auszudrücken, dass „Autorenschaft“ sofort erkennbar sei, haben verschiedene zeitgenössische Künstler – absichtlich – einen  kennzeichnenden Stil vermieden, indem sie, chamäleongleich ihren Stil von einer Werkserie zur nächsten wandelten. Bei Rosario R.d.A. erschienen diese Wandlungen mit so offensichtlichem und intensivstem künstlerischem Impetus, dass es bisher schien, als ob es mehr um einen bewussten Richtungswechsel denn um eine bloße Strategie ginge. In ihrer gegenwärtigen Ausstellung – mehr als in ihrer Installation im Botanischen Museum im Sommer 1996 – sind die stilistischen Veränderungen einer beherrschenden Intention untergeordnet. Dies ist somit ihre bisher kohärenteste – und zugleich interessanteste – Ausstellung.

Unter dem Motto „Stummer Roman“ wurden zwischen 1994 und 1996 mehr als hundert kleine Zeichnungen und Ölbilder geschaffen, allesamt (aber nicht unbedingt alle so ausgestellt) in der Horizontalen konzipiert. Wie der Titel sagt, stützen sich die Arbeiten auf eine lose aber nie explizite Erzählabsicht, die sich einer unmittelbaren Interpretation entzieht. Inspiriert war die Idee durch einen Zyklus von 6 Stichen aus dem 17. Jahrhundert, die sich im Museum von Evora befinden und unter dem Namen „Schlüssel zum stummen Roman des Lebens des heiligen Antonius“ bekannt sind. Diese Stiche gehören einem seit dem Barock sehr beliebten Werktypus an: die sogenannten  „livros de divisas“. Das Ziel dieser Publikationen jesuitischen Ursprungs war es, die Heiligen-Ikonographie (sei es in Form von Büchern oder losen Blättern) in Form eines Spiels oder Puzzles zu verbreiten. Da es sich sehr oft um das Leben von Heiligen handelte, waren es hieroglyphische Sammlungen mit Schlüsseln zu deren Dechiffrierung.

Des öfteren haben solche Figuren – Bildzeichen oder Ikonen – ihre Macht der Verführung auf Künstler gezeigt, ebenso wie Symbole dies auf geistreiche Weise versuchen und auch verschiedene Kunstwerke: den Sinnen mit einer symbolischen Sprache zu dienen (man denke etwa an Gemälde von Miro, Gorky, Clemente...). Rebello de Andrade schafft ein piktographisches Lexikon von Bildern, die mit der Quelle gleichzeitig verbunden und zugleich von ihr losgelöst sind. Das kleine Format, die Montage, durch die die Notwendigkeit einer Gruppenanordnung sich ergibt, sowie das sehr spezifische und reduzierte Umfeld des Projektes kommen der Künstlerin sehr gelegen: es gibt in diesen kleinen Arbeiten eine traumhafte Dimension, eine Kombination von Präzision in der Darstellung des Bildes mit Ambivalenz der Bedeutung. Es wird uns nämlich kein einziger Schlüssel geliefert. Selbst wenn man die offensichtliche Anleihe der Künstlerin bei anderen Künstlern (speziell bei Clemente) wahrnimmt, erfüllt Rosario Rebello de Andrade ihre Werke mit einem sehr persönlichen Anklang von Obsessivität.

Zu dieser Ausstellung, welche im wortwörtlichen Sinne eine zauberhafte Atmosphäre ausstrahlt, gibt es ein Buch, das, obwohl es auf der Ausstellung basiert, unabhängig von dieser geschaffen wurde.

 

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